O que é ahimsa? Nessa jornada de desenvolvimento de amor-próprio e autocompaixão que se inicia, compreenda melhor o tema e como aplicar ahimsa em nossos pensamentos
Ahimsa é uma palavra em sânscrito (língua antiga do norte da Índia) que significa não-agressão. Esse palavra foi descrita principalmente nos Yoga Sutras de Patañjali, livro de base filosófica fundamental do Yoga, em que o praticante tem estabelecido um caminho de oito passos que deve trilhar, a fim de alcançar a iluminação (samadhi).
No caminho descrito por Patãnjali, Ahimsa deve ser a base de tudo. A mensagem contida nos Yoga Sutras, é que você precisa ser amoroso e embasar a sua vida no amor, inundando seus pensamentos, ações, palavras e existência de amor.
A vida cotidiana tem nos acostumado cada dia mais com pequenos atos de desamor. Em todos os níveis, se observamos com atenção, podemos perceber a falta de amor ao nosso redor.
Em nós, percebemos a falta de amor quando nos comparamos e nos cobramos excessivamente, quando exageramos (na comida, no exercício, no trabalho…) como forma de compensar sentimentos varridos para debaixo do tapete. Quando procrastinamos ou não respeitamos nossos limites, quando ignoramos quem somos e vivemos uma vida no automático, quando não nos nutrimos daquilo que nos faz sentir vivos, quando não temos hobbies, quando não criamos espaços de pausa e de descanso. Quando nos fechamos para novas perspectivas e rejeitamos o desconhecido…
Com os outros, somos violentos quando falamos sem pensar, quando julgamos para controlar o outro ou alimentar o nosso ego, quando rejeitamos o jeito de viver alheio só por não ser o nosso e por não compreendermos o jeito do outro, quando estabelecemos relações cada dia mais rasas e egoístas, quando negamos ajuda por puro descaso…
E com o mundo, somos violentos ao nos acostumarmos com a miséria alheia, com a falta do teto e do pão, com a dizimação de povos, com as mais diversas formas de opressão, quando não temos compaixão.
Enxergarmos as violências em nosso cotidiano é o primeiro passo para cultivar ahimsa. Reflita alguns instantes sobre onde falta ahimsa para você. Faça uma lista se preferir, considerando que trabalharemos esses conceitos ao longo do ano e poderemos voltar nessa lista lá no fim de 2025 e ver como a sua relação foi alterada pelo conhecimento dos Yamas e Niyamas.
Por ser um tópico extenso e de muitos desdobramentos, nesse texto vamos focar na violência presente em nossos pensamentos. Você poderá ler sobre outros aspectos de ahimsa em textos futuros.
Violência nos pensamentos
Pensar sobre a violência contida em nossos pensamentos é uma tarefa difícil e deveras dolorida, porque aqui estamos falando provavelmente de um relacionamento que você tem há muitos anos com a sua mente e com pensamentos que machucam e podem ser a fonte de muitos desequilíbrios. Se você acredita que esse tópico será muito sensível pra você, deixe pra ler em outro momento ou opte por conversar sobre isso com um profisisonal.
A nossa mente é muito poderosa. Alguns pensamentos que temos podem ser gatilhos para crises de pânico, insônia, stress, tensão e muitas outras coisas.
Antes de refletir sobre seus pensamentos, é importante compreender que a voz que pensa em sua cabeça, não é quem você é. Nosso eu interior é sereno e pacífico. Se a voz que fala em sua cabeça é má, rude, crítica, te julga, te põe medo, saiba que ela é um produto da sua mente, alimentado por condicionamentos, por todo tipo de experiência e trauma que um dia você viveu.
A identificação dos pensamentos recorrentes que você tem, precisa acontecer com essa noção bem estabelecida: seus pensamentos não refletem a verdade sempre. Não acredite no que essa voz interna te diz, sem antes questionar o que está sendo dito.
Dar esse primeiro passo de observar a sua mente já é muito transformador.
Ao se tornar capaz de observar um pensamento seu, você compreende que existe um observador. O observador é quem você é. É necessário buscar essa pessoa interna, essa consciência observadora, que é silenciosa e serena. Entramos em contato com ela principalmente quando meditamos e conseguimos reduzir o excesso de pensamentos. É como se nosso eu consciente fosse um céu límpido e os pensamentos fossem nuvens sobre esse céu. Quanto mais você acredita que as nuvens são o céu, menos capaz você se torna de entrar em contato com essa camada mais profunda de si.
Para dissiparmos as nuvens, precisamos antes, observá-las, dar nomes à elas, questionar o conteúdo de cada uma e o espaço que elas tomam do seu céu. Ao fazer isso, nos trazemos mais para a realidade e aquele pensamento se enfraquece. Ele não necessariamente vai desaparecer, mas ao invés de ser algo estático, que determina sua forma de viver, se transforma em algo que vem e vai e que não consegue mais te afetar.
Por exemplo, se você tem sempre o pensamento de que não é capaz de fazer as coisas bem, traga para sua reflexão todas as vezes em que você tentou fazer algo e foi bem-sucedido. Ao fazer esse exercício, você se traz para a realidade e percebe que aquele pensamento não retrata a realidade. Dessa forma, o pensamento se enfraquece e mesmo que ele apareça, você não será afetado.
Um exemplo prático disso é a Brené Brown, autora do livro que leremos este mês no clube do livro. Mesmo sendo uma pesquisadora renomada e referência mundial em vulnerabilidade e coragem, ela ainda lida com a síndrome do impostor. Em um de seus livros, menciona que evita assistir ao próprio TED Talk, apesar do enorme sucesso, pois se critica excessivamente. Isso ilustra como nossa mente pode ser injusta e como a autocrítica pode nos impedir de reconhecer nossas próprias conquistas. Aplicar ahimsa aos nossos pensamentos significa aprender a questionar essas vozes internas e cultivar um olhar mais compassivo sobre nós mesmos.
Como pacificar a mente?
Existem algumas ações que podem te ajudar a por ordem em sua casa interna e a viver mais em paz.
- Medite.
Para começarmos a transformar nossa relação com nossos pensamentos, é necessário meditar. É na meditação que criamos espaço para assimilação, para análise profunda das coisas. Comece por pouco tempo, ouvindo uma música de olhos fechados, por exemplo. - Diário de pensamentos
Você pode escrever seus pensamentos em um diário, de papel ou no celular, para conseguir observar melhor quais são mais recorrentes. Crie o hábito de olhar para a história que aquele pensamento está te contando e a questionar se ela é verdadeira ou não. - Cuidado com o que você consome.
Temos acesso a muitos conteúdos durante nosso dia. No Instagram, nos streams, TikTok, X, etc. Se não observarmos com atenção o que estamos consumindo, podemos acabar alimentando determinados pensamentos e sentimentos.
Se você tem tido muitos pensamentos tristes, por exemplo, consumir mais conteúdo triste só vai validar o que você está sentindo e não vai ajudar a sair desse estado. Se você se sente muito ansioso por se comparar excessivamente, perder horas do seu dia no Instagram também não vai te ajudar a se comparar menos.
Quando pensamos no prana, em nossa energia vital, devemos pensar em tudo que nos alimenta, fisiológica e mentalmente. - Amplie sua visão de mundo.
Ampliar as nossas perspectivas sobre o mundo pode ajudar muito a lidar com nossos pensamentos. Conversar com pessoas diferentes que te apresentem novas perspectivas, ler livros que te descansam e renovam sua visão de mundo, estudar algo diferente, ouvir novas músicas, experimentar novos lugares. Tudo isso cria espaço mental e deixa alguns pensamentos menos predominantes em nossa mente. - Acredite em sua capacidade de lidar com seus pensamentos.
Quando acreditamos que não podemos mudar nosso estado mental, nos resignamos, o que gera frustração e ansiedade. Para lidar com a resignação, muitas vezes ligamos nosso botão de automático e só deixamos a vida passar. Quando cultivamos ahimsa, nos apaixonamos por nós mesmos de tal forma, que é inaceitável simplesmente ver a nossa vida passar pelos nossos olhos e seguir nos sentindo tristes, sobrecarregados e desequilibrados. Reconheça que você merece mais e haja firmemente. Se pergunte: “o que eu posso fazer hoje para me sentir mais capaz de lidar com esses pensamentos?”
Persista, experimente, tente outra vez. Lembre-se que você está buscando mudar sua forma de lidar com padrões de pensamentos que talvez tenham persistido por toda a sua vida. Não vai ser rápido ou fácil, mas com certeza vai valer a pena. - Busque ajuda profissional.
Existem muitas formas acessíveis de se consultar com um psicólogo para lidar com seu conteúdo mental. O profissional consegue enxergar com muita clareza seus comportamentos de autocobrança, julgamento excessivo e também quando sua visão de mundo está muito focada em seu mundo particular.
Dessa forma, ele pode introduzir pontos de vista que você ainda não conseguiu enxergar, para tornar essa caminhada mais leve e fácil.
Se o valor por sessão hoje é uma barreira pra você, busque conteúdos gratuitos de profissionais sérios no Youtube ou Spotify. Se você pode investir cerca de R$50,00 mensais, saiba que o banco Inter tem um programa chamado “Dr. Inter”, que cobra mensalmente R$4,90 e R$46,90 por consulta online realizada. Mesmo uma consulta por mês já pode fazer muita diferença.
Conclusão
Conversamos hoje sobre muitas coisas profundas, então releia o texto se precisar. Crie espaço para digerir e refletir sobre ele. Critique o que precisar criticar. Só não vale se conformar e deixar pra lá.
Começamos uma jornada muito profunda de autoconhecimento, que pode ser desconfortável em muitos momentos. Por isso, deixo aqui uma frase que sempre me guia, para que além da observação, exista movimento, para que usemos nossa potência de agir nas direções que realmente importam.
”É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…” (Paulo Freire)
Encerro esse texto agradecendo a cada aluno que me leu e que está no grupo dos Enraizados, porque esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…
Obrigada, nos vemos no próximo texto.

Amanda Maximino
Bióloga de formação pela UFMG, formada como professora de Vinyasa Hatha Yoga (Yoga Alliance E-RYT 200), especialista em Filosofia e Neurobiologia da Meditação e em Yoga na Gestação. Estudiosa-praticante, com aulas focadas no alívio de stress e ansiedade.
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